A relação entre mulheres e automóveis na década de 1960 nos Estados Unidos (e em parte também na cultura ocidental em geral) passou por transformações importantes.

Mulher e carro – Natália Svetlana – Colunista
Embora ainda estivesse profundamente marcada por estereótipos de gênero e pela publicidade patriarcal da época.
1. Mulheres como Consumidoras de Automóveis
- Durante os anos 60, o número de mulheres dirigindo aumentou significativamente, refletindo a crescente urbanização, o papel da mulher na força de trabalho e a expansão dos subúrbios;
- Muitas mulheres passaram a ser compradoras diretas de carros, algo que a indústria automobilística começou a notar;
- No entanto, os fabricantes ainda tratavam as mulheres como consumidoras secundárias.
- Geralmente associando seus gostos a cores, praticidade e segurança, e não a desempenho ou engenharia.

2. Publicidade com Estereótipos de Gênero
- A publicidade automotiva da década de 1960 frequentemente retratava as mulheres de forma condescendente ou caricatural:
- Elas eram apresentadas como motoristas inseguras ou desatentas, o que justificava a ênfase em carros “fáceis de dirigir”;
- Cores “femininas” (como rosa, azul claro, bege) eram associadas a modelos voltados para o público feminino;
- Um exemplo notável foi o Dodge La Femme (lançado nos anos 1950, mas ainda influente culturalmente nos 60), que vinha com acessórios como bolsa combinando e guarda-chuva, reforçando a visão de que o carro era uma extensão da vaidade feminina.

3. Mulheres no Mercado de Trabalho e Mobilidade
- Com o crescimento do emprego feminino, sobretudo em áreas urbanas, o automóvel passou a ser instrumento de autonomia.
- O carro deu às mulheres mais liberdade de deslocamento, seja para o trabalho, compras, escola dos filhos ou lazer.
- Essa mobilidade, embora limitada por normas sociais e de gênero, já sinalizava as mudanças que o movimento feminista viria a consolidar no final da década.
4. Mulheres nas Corridas e na Indústria
- Embora extremamente minoritárias, algumas mulheres começaram a se destacar em esportes automobilísticos — como Shirley Muldowney, que começou sua carreira nas pistas ainda nos anos 60 e se tornaria uma lenda nas décadas seguintes.
- Na indústria automotiva, no entanto, a presença feminina em posições de decisão era quase inexistente.

5. Influência dos Movimentos Sociais
- O final da década viu o nascimento da segunda onda do feminismo (com figuras como Betty Friedan e o livro The Feminine Mystique, de 1963), que questionava os papéis tradicionais da mulher na sociedade — inclusive no consumo.
- O carro, como símbolo de liberdade individual e poder masculino, começou a ser reapropriado simbolicamente pelas mulheres.
Em resumo:
Durante a década de 1960, a mulher e o automóvel tinham uma relação ambígua, de crescente autonomia, mas ainda atravessada por estereótipos de gênero e limitações sociais.
A indústria demorou a reconhecer plenamente as mulheres como consumidoras conscientes e ativas, mas os sinais de mudança estavam em curso.





